Malu Ribeiro: a água ao longo de 305 km do rio Paraopeba apresenta níveis de contaminação que inviabilizam o consumo
Estudo apresentado nesta quarta-feira (27), em audiência pública da comissão externa da Câmara dos Deputados sobre o desastre de Brumadinho (MG), detalha a devastação ambiental no município, os metais pesados ao longo do rio Paraopeba e os riscos de contaminação na bacia hidrográfica do São Francisco. Os resultados foram obtidos pela Expedição Paraopeba, da Fundação SOS Mata Atlântica.
O crime socioambiental – que vitimou cerca de 300 pessoas, entre mortos e desaparecidos – também degradou 112 hectares de florestas nativas. Segundo o estudo, a água ao longo de 305 km do rio Paraopeba apresenta níveis de oxigênio, turbidez e PH totalmente fora dos padrões permitidos para consumo. Foi detectada a presença de óxido de ferro, manganês, cobre e cromo oriundos dos rejeitos da barragem da Vale.
As amostras de água foram coletadas em 22 pontos entre 31 de janeiro e 9 de fevereiro.
A coordenadora da Expedição Paraopeba, Malu Ribeiro, expôs o impacto da contaminação sobre a fauna, a flora e o abastecimento de água dos 21 municípios visitados ao longo do rio.
"Esse trecho todo está sem condição de vida: água completamente comprometida, com qualidade variando de péssima a ruim, portanto, impossível de ser utilizada para usos múltiplos", afirmou Malu Ribeiro.
Rio São Francisco
A contaminação é elevada inclusive na represa da hidrelétrica de Retiro Baixo, no município de Pompéu (MG). Especialistas afirmam que a chegada de resquícios da lama tóxica ao rio São Francisco também é inevitável: pode demorar meses ou acontecer rapidamente, em caso de enchente.
Segundo Malu Ribeiro, o foco imediato para a mitigação desses efeitos deve se concentrar principalmente nas represas do São Francisco, como a de Três Marias.
"Só o monitoramento permanente e a definição de regras operativas dessa barragem vão poder dar ao Comitê de Bacia do São Francisco as medidas necessárias para mitigar e recalibrar essas vazões de forma a garantir segurança e capacidade de recuperação e que esse conta-gotas de veneno sobre a cabeceira do São Francisco não mate o rio. Esse monitoramento terá de ser pago agora como ressarcimento de danos", disse Ribeiro.
Necessidade de mudanças
O relator da comissão externa de Brumadinho, deputado Júlio Delgado (PSB-MG), disse que o endurecimento da legislação é inevitável para evitar a repetição de crimes socioambientais. "É preferível a gente pecar pelo excesso para que amanhã não venha a pagar pela omissão", declarou.
Representantes da Associação Brasileira de Recursos Hídricos e da Agência Nacional de Águas defenderam mais investimentos e recursos humanos para garantir a efetividade da Política Nacional de Segurança de Barragens (Lei 12.334/10). Eles também querem maior participação da Defesa Civil nos planos de ação de emergência e obrigatoriedade de simulações de desastres com a população afetada por grandes empreendimentos.
Michel Jesus/Câmara dos Deputados
Comissão sobre Brumadinho realizou audiência nesta quarta para debater impactos do desastre
CPI mista
A investigação dos crimes socioambientais da mineração continua gerando polêmica. Para otimizar os trabalhos, os deputados da comissão externa da Câmara defendem uma comissão parlamentar mista de inquérito (CPMI).
Oficialmente, o presidente do Senado afirmou que vai esperar até 11 de março para decidir se instala ou não uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) exclusiva sobre Brumadinho naquela Casa. Vários deputados, no entanto, manifestaram a preocupação de que uma eventual CPI exclusiva venha a ser alvo do chamado "lobby das mineradoras".
"Nós precisamos reagir porque estão preparando ‘pizza’ com as pessoas se alimentando de minério: é fazer um jogo que ajuda as mineradoras e prejudica todo um povo. A expectativa é muito grande para que não se tenha impunidade”, disse o deputado Rogério Correia (PT-MG).
“Uma das características de Mariana foi esta: 20 pessoas foram indiciadas na época, e a Vale, com o lobby dela, conseguiu paralisar o processo na Justiça. Estão todos até hoje impunes. Se não tivermos uma CPMI e tivermos uma ‘pizza’, provavelmente esses diretores da Vale vão sair impunes de novo”, afirmou Correia.
Alertas com sirenes
Também defensor da CPI mista, o deputado André Janones (Avante-MG) apresentou outra denúncia contra a Vale nas cidades mineiras de Barão de Cocais e Nova Lima, onde houve recentes alertas com sirenes sobre riscos de novos rompimentos de barragem.
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"A Vale, por meses e meses, se reuniu com o prefeito e com a Câmara de Vereadores tentando comprar as 49 residências que estavam na área de risco (em Barão de Cocais). Quando encerrou-se a negociação e a Vale não conseguiu comprar essas 49 residências, ela tocou a sirene. Hoje, ela consegue comprar essas residências a preço de banana. Daí vem a necessidade da CPMI", declarou Janones.
O coordenador da comissão externa, deputado Zé Silva (SD-MG), se reuniu com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, para tratar dos detalhes de uma semana de esforço concentrado, no Plenário da Casa, com propostas para aperfeiçoar as atuais regras de segurança e monitoramento de barragens, além da reparação dos danos socioambientais. Os deputados devem avaliar cerca de 100 projetos de lei sobre o tema, e a votação está prevista para abril.
A Câmara dos Deputados aprovou na noite desta quarta-feira (29) o projeto de lei que torna o Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, feriado nacional. O texto já tinha sido aprovado pelo Senado e, agora, vai à sanção presidencial.
Foram 286 votos a favor, 121 contra e duas abstenções. Atualmente, a data é feriado em seis estados – Mato Grosso, Rio de Janeiro, Alagoas, Amazonas, Amapá e São Paulo – e em mais de 1.000 cidades por meio de leis municipais e estaduais.
A data é uma homenagem a Zumbi dos Palmares, líder do Quilombo dos Palmares, morto em 1695, e símbolo de resistência contra a escravidão.
“Zumbi dos Palmares foi um homem que conseguiu manter a chama viva, ardente em nossos corações, nas nossas veias, nas nossas almas, que fez com que esse Brasil pudesse reconhecê-lo como herói da pátria brasileira. Não herói dos negros, é herói da pátria brasileira. Não é apenas um feriado qualquer, é uma história do Brasil”, disse a deputada Benedita da Silva (PT-RJ), que falou em nome da bancada governista.
A relatora Reginete Bispo (PT-RS) disse que a data servirá para aumentar os esforços de combate ao racismo e de promoção da igualdade racial. “Talvez pareça a muitos uma iniciativa menor, meramente simbólica. Mas não o é. Porque símbolos são importantes. São datas alusivas ao que o país considera mais relevante em sua história”, disse.
Para os deputados contrários, a declaração de feriado prejudica setores da economia e a data deve ser estipulada por assembleias estaduais e municipais, como é atualmente. “No mês de novembro já temos muitos feriados, isso teria de ser decisão das câmaras municipais”, argumentou o deputado Professor Paulo Fernando (Republicanos-DF).
Desde 2003, as escolas passaram a ser obrigadas a incluir o ensino de história e cultura afro-brasileira no currículo. Em 2011, a então presidente Dilma Rousseff oficializou o 20 de novembro como Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra.
Os senadores aprovaram nesta quarta-feira (29), por unanimidade, o projeto de lei complementar que autoriza o uso de recursos do Fundo Social para custear a permanência de estudantes no ensino médio. Pela proposta, as despesas não serão consideradas no cálculo dos limites de gastos da União.
Conforme o projeto, de autoria do senador Humberto Costa (PT-PE) e relatoria do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), o superávit financeiro do Fundo Social poderá ser usado, ainda este ano, para financiar esse programa de permanência, que terá de ser criado por legislação específica. O Fundo reúne recursos gerados pela exploração de petróleo no pré-sal.
A aprovação do projeto ocorreu após acordo entre governo e oposição. Os senadores chegaram a um acordo para definir um limite de R$ 6 bilhões do Fundo para o programa.
Poupança
O governo federal criou nesta semana um programa de bolsa permanência e de poupança para estudantes de baixa renda que estão no ensino médio, para incentivar a permanência e conclusão dos estudos. Para isso, será criado um fundo especial em que a União deve aportar até R$ 20 bilhões.
A Medida Provisória (MP) nº 1.198, de 27 de novembro de 2023, foi publicada na terça-feira (28) em edição extra do Diário Oficial da União. Por ter força de lei, a MP já está em vigor, mas precisa ser aprovada pelo Congresso Nacional em 120 dias para não perder a validade.
Um ato conjunto dos ministérios da Educação e da Fazenda vai definir valores, formas de pagamento, critérios de operacionalização e uso da poupança de incentivo à permanência e conclusão escolar. Os valores serão depositados em conta a ser aberta em nome do estudante, que poderá ser a poupança social digital da Caixa Econômica Federal.