Impacto da ausência de Jair Bolsonaro em Santa Catarina

A disputa pelo Senado em Santa Catarina se tornou um importante indicativo da nova fase da direita brasileira. A pré-candidatura de Carlos Bolsonaro trouxe à tona desentendimentos entre lideranças do grupo e evidenciou a falta de liderança deixada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. Sem a presença de Jair para mediar conflitos, houve uma abertura significativa para disputas internas entre os conservadores, que buscam novos espaços e protagonismo na política.
Santa Catarina sempre foi um bastião do conservadorismo no Brasil. O estado nunca teve um governo do Partido dos Trabalhadores (PT) e Jair Bolsonaro obteve vitórias expressivas lá em 2018 e 2022. Em 2026, o estado vai eleger dois senadores, em um cenário que parece adequado para a direita apresentar duas candidaturas fortes. No entanto, a falta de coordenação entre os grupos provocou mais disputas pessoais do que estratégicas, substituindo cálculos políticos por rivalidades.
O conflito começou quando a deputada estadual Ana Campagnolo, do PL e muito popular nas redes sociais, resolveu criticar a tentativa de impor Carlos Bolsonaro como candidato. Ela se manifestou contra a intromissão de figuras de fora e pediu que houvesse respeito pelos líderes locais. Sua atitude gerou uma onda de reações, com ela sendo chamada de mentirosa e alvo de críticas de aliados.
Ana Campagnolo não é uma figura insignificante. Ela foi a deputada mais votada da história de Santa Catarina e possui uma grande audiência entre os conservadores. Sua força se baseia nas ideias que defende e na sua influência na mídia digital, o que representa uma ameaça à hierarquia estabelecida nas forças conservadoras. Cada vez mais, conservadores consideram representantes como ela e Nikolas Ferreira como os novos rostos do movimento, defendendo que seu papel é legítimo por mérito, e não apenas por conta da família Bolsonaro.
Campagnolo e outros políticos estão se adaptando a um cenário em que o governador Jorginho Mello buscava aliança com o Partido Progressista (PP) para manter apoio nas eleições, mas a entrada de Carlos Bolsonaro complicou essa relação. Isso deixou a candidatura de Carol de Toni, também do PL, em uma posição vulnerável, levando-a a considerar a possibilidade de se mudar para o partido Novo. Diante do clima tenso, Carol tem se mantido em silêncio, o que pode ser uma estratégia sábia em meio a tantos desentendimentos.
O pastor Silas Malafaia também se manifestou sobre a candidatura de Carlos, expressando dúvidas sobre a efetividade dessa estratégia. Essa declaração o fez enfrentar reações adversas nas redes sociais, e ele denunciou o que considera uma política de “cancelamento” entre aliados.
A tática de ataque do bolsonarismo, que anteriormente se voltava contra opositores, agora está sendo utilizada contra aliados significativos. Nikolas Ferreira, um dos conservadores mais populares, também tem sido alvo dessa disputa, pois é próximo a Campagnolo.
Esse conflito mostra uma questão mais ampla: sem a presença forte de Jair Bolsonaro, os grupos de direita estão se fragmentando, com cada um tentando afirmar sua própria liderança. Os filhos de Jair tentam manter seu legado, mas não respeitam as hierarquias que antes definiram o funcionamento desse segmento político. Nesse ambiente, apenas o sobrenome já não é suficiente para garantir sucesso político.
A direita está em uma luta interna para ver quem se destaca mais, enquanto o público acompanha essa movimentação, percebendo que o problema atual vai além da falta de apoio: é a ausência de uma liderança centralizada. Observando a situação, a direita pode aprender com o PT, que, ao longo dos anos, desenvolveu a habilidade de atuar em conjunto, apesar de suas próprias disputas internas.




