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Indústria aponta dificuldades na diversificação das exportações –

Na terça-feira, dia 15, representantes do setor industrial brasileiro se reuniram com o governo federal para discutir a sobretaxa de 50% que os Estados Unidos anunciaram sobre produtos brasileiros. Esta reunião destacou a situação delicada de várias indústrias nacionais, que apontaram a dificuldade em redirecionar suas vendas para outros mercados em um curto ou médio prazo.

Durante o encontro, seis setores da indústria foram claros sobre os impactos da medida. A Abimaq, que representa a indústria de máquinas e equipamentos, informou que exporta cerca de 4 bilhões de dólares por ano para os EUA, mercado que responde por 50% das exportações brasileiras de alta tecnologia. A entidade ressaltou que não é viável mudar o destino das vendas devido ao volume e à especificidade dos produtos.

A Abicalçados, que representa a indústria de calçados, também levantou preocupações. Com 22% de suas exportações destinadas aos EUA, a associação explicou que os produtos são fabricados sob encomenda dos clientes americanos, dificultando a realocação. O setor já começou a enfrentar cancelamentos de pedidos e estima que a cobrança da nova tarifa pode levar à perda de cerca de 7.000 empregos diretos e 5.000 indiretos, especialmente no Nordeste.

Outro setor afetado é o de ferro gusa, representado pelo Sindifer, que informou que 68% da sua produção é exportada, sendo 85% destinada aos Estados Unidos. A entidade destacou que não há como redirecionar essas exportações em razão da sua magnitude.

O Sindipeças, que representa a indústria de componentes para veículos automotores, também indicou a impossibilidade de redirecionar suas vendas devido à elevada especialização do setor em relação ao mercado americano.

A Abimóvel, que engloba as indústrias do mobiliário, comunicou que 27% de suas exportações vai para os EUA, sendo grande parte da produção feita sob encomenda. A associação alertou que a sobretaxa favoreceria concorrentes, como os fabricantes chineses, que se tornariam mais competitivos.

A Abrafi, que representa os produtores de ferroligas, mencionou que a metade da produção é destinada ao exterior, com 20% voltando-se para os Estados Unidos. Segundo a entidade, encontrar alternativas de mercado com a mesma capacidade de absorção é inviável.

Outros setores também manifestaram preocupações. A Abimci afirmou que as indústrias de madeira dependem fortemente do mercado americano, especialmente em virtude da demanda do setor de construção civil dos EUA. O Instituto Aço Brasil lembrou que o Brasil é o segundo maior exportador de aço para os Estados Unidos, logo atrás do Canadá, mas ressaltou que os produtos são complementares.

A Abal, que representa a indústria do alumínio, relatou que 14,2% de suas exportações são para os EUA e que já enfrenta tarifas de 25% desde meses atrás. A associação indicou uma queda de 25% nas exportações para o país no primeiro semestre do ano e manifestou preocupação com a possível descontinuação de negócios, embora tenha considerado a possibilidade de encontrar novos mercados no médio prazo.

A Embraer, uma das grandes empresas presentes no encontro, destacou que 30% de sua receita provêm de exportações para os EUA, onde opera há décadas sem tarifas. A elevação da tarifa para 10% já teve impacto negativo sobre a empresa, e um aumento para 50% tornaria as operações inviáveis. A companhia esclareceu que não é possível redirecionar as vendas devido a questões técnicas e comerciais, além de dependências de componentes provenientes dos EUA.

Todos os setores afetados apoiaram a proposta da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que sugeriu ao governo brasileiro solicitar um adiamento de 90 dias para a implementação das tarifas, programadas para entrar em vigor em 1º de agosto. O objetivo é ter mais tempo para negociar uma solução que minimize os impactos da medida.

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