Jingle esquecido do GLOBO é resgatado após 100 anos; ouça –

Em 1925, o jornal O GLOBO surgia no Rio de Janeiro, buscando se integrar ao dia a dia dos seus leitores. Em uma época em que a música popular dominava as festas e o entretenimento, o jornal utilizou canções para anunciar seu lançamento. O rádio e os discos começavam a se popularizar, tornando-se plataformas ideais para a divulgação das novidades.
A música tema do jornal foi um foxtrote, criado pelos compositores Amaral Campos e De Castro e Souza. Os versos do jingle falavam sobre o compromisso do jornal em ser uma voz representativa e defensor do Brasil. Um século depois de sua criação, a partitura foi adaptada e gravada em parceria com o produtor musical Luís Filipe de Lima, que se dedicou ao resgate dessa peça histórica.
A ideia de registrar a música surgiu durante a preparação das comemorações dos 100 anos do jornal. O material faz parte de uma exposição na Casa Roberto Marinho, que celebra a trajetória do O GLOBO. O processo de adaptação do foxtrote foi descrito como um trabalho meticuloso, quase arqueológico, já que as partituras originais estavam escassas e apenas uma partitura para piano foi encontrada.
A chance de reescrever a melodia era única, pois a letra não tinha uma transcrição exata da música. Luís Filipe comentou que os pianistas costumavam tocar as novidades nas lojas de música, e as partituras eram levadas para casa por homens que as repassavam para mulheres que tocavam o instrumento.
Desde seu lançamento, o foxtrote do O GLOBO fez sucesso em orquestras e grupos musicais da cidade. Na inauguração do jornal, foi oferecido um exemplar gratuito da partitura a quem visitasse as redações.
Para a gravação atual, Luís Filipe decidiu dar um toque carioca ao foxtrote e escolheu o cantor Marcos Sacramento para interpretá-lo. Sacramento destacou que a letra, embora datada, trouxe frescor com o novo arranjo. Ele viu a canção como uma forma de divulgar o jornal em um contexto cultural vibrante.
Nos anos 1920, influências musicais de fora do Brasil eram comuns e rapidamente assimiladas por artistas locais. Sacramento comparou a ideia de um jingle hoje a segmentos modernos da música, como trap e rap, ressaltando a evolução dos estilos musicais no cenário atual.
O O GLOBO sempre aproveitou as inovações culturais para suas campanhas publicitárias. Por exemplo, após a consolidação do samba no Brasil, Noel Rosa e Vadico compuseram a famosa “Conversa de botequim”, que se tornou emblemática ao longo do tempo. Já nos anos 1970, um jingle para o Classifone fez ressurgir a música em uma nova versão que seguia o sucesso do samba.
Em um fato curioso, quando “Conversa de botequim” foi composta, o número de telefone mencionado não existia. Ele somente foi criado alguns anos depois, quando o O GLOBO já estava consolidado no jornalismo carioca.
A história de O GLOBO está também ligada à música popular, desde os tempos em que Irineu Marinho, o fundador do jornal, se envolveu com a cena musical. Ele foi pioneiro ao registrar, em 1913, uma reportagem sobre o jogo ilegal no Rio, criando uma roleta fictícia para evidenciar a falta de ações da polícia em relação à jogatina.
O chefe da polícia da época, Aureliano Leal, era um dos responsáveis por essa situação, e os repórteres do jornal se disfarçaram de jogadores para documentar a realidade. Este episódio ficou famoso na mídia e ajudou a destacar a relação do jornalismo com a cultura popular.
Irineu Marinho também foi um dos grandes apoiadores do grupo musical Oito Batutas, que contava com a participação de Donga e Pixinguinha. O envolvimento do jornal com a cultura e a música se manteve forte ao longo do tempo, consolidando sua importância no panorama carioca e brasileiro.