Larissa Manoela em novela provoca debate sobre saúde mental –

A atriz Larissa Manoela, de 24 anos, chamou a atenção do público ao interpretar Estela, uma jovem enfermeira na novela “Êta Mundo Melhor!”. Em uma cena impactante, Estela enfrenta uma crise de ansiedade. Essa representação gerou reações variadas nas redes sociais e trouxe à tona um debate importante: como reconhecer os sinais de problemas de saúde mental.
Embora a história de Estela seja ficcional, ela reflete a realidade de muitos brasileiros. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que o Brasil possui a maior incidência de transtornos de ansiedade no mundo, afetando cerca de 10% da população.
Esse problema de saúde mental tem raízes profundas e se intensificou em um contexto atual de hiperconexão e estresse constante. O psiquiatra Dr. Rafael Almeida fala sobre como mesmo conhecendo bem as funções do cérebro, ainda podemos ser surpreendidos pela maneira como o corpo reage, transformando-se em um campo de batalha interno.
Clinicamente, a ansiedade é entendida como um estado contínuo de apreensão, que pode ser desencadeado por fatores reais ou imaginários. Esse aspecto é uma reação instintiva que remonta a tempos pré-históricos, mas atualmente é frequentemente ativada por notificações em celulares, pressões no trabalho e sobrecargas emocionais. A crise de pânico representa a forma mais intensa desse transtorno, manifestando-se através de sintomas como taquicardia, tremores e sudorese, criando uma sensação aguda de que algo terrível está prestes a acontecer.
Dr. Almeida ressalta que simplificar a ansiedade como um mero desequilíbrio químico ignora os impactos do ambiente. Ele destaca que a exposição constante a pressões sociais pode moldar nossa biologia, afirmando que contextos estressantes podem ativar ou desativar genes relacionados à saúde mental.
Tradicionalmente, distúrbios emocionais eram vistos como sinal de fraqueza, mas atualmente existe o risco oposto: a medicalização excessiva. Isso transforma o sofrimento humano em diagnósticos clínicos, levando a uma “hipocondria coletiva”. Apesar do aumento da discussão sobre saúde mental, os índices de transtornos não parecem diminuir.
Para lidar com a ansiedade, Almeida sugere uma abordagem abrangente. Terapias reconhecidas, práticas de respiração, técnicas de mindfulness e, em alguns casos, medicação, são essenciais. O tratamento deve integrar corpo e mente e considerar o contexto social de cada indivíduo, enfatizando que não se trata apenas de tratar o cérebro, mas também de mudar o ambiente que nos rodeia.
Ele também propõe medidas mais amplas, como reformular os ambientes de trabalho, promover a educação emocional desde a infância, criar redes de apoio e ampliar políticas públicas voltadas para a saúde mental. Almeida conclui que a saúde mental deve ser um objetivo coletivo e não um luxo individual.
A crise enfrentada por Estela na novela pode ser uma obra de ficção, mas representa uma questão muito real. Identificar e acolher esses sinais de ansiedade é fundamental para evitar que experiências semelhantes se tornem silenciosas e invisíveis na vida cotidiana. Cuidar da mente é um passo crucial para o futuro de todos, e essa transformação pode ser a chave para uma sociedade mais saudável.