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Morre Bob Wilson, referência do teatro experimental, aos 83 anos –

Bob Wilson, um renomado diretor de teatro e ópera, faleceu na última quinta-feira, dia 31. Com mais de 60 anos de carreira, ele ficou conhecido por seu estilo minimalista que abrangia não apenas a direção, mas também o trabalho como dramaturgo, iluminador, pintor e escultor.

Nascido no Texas em 1941, Wilson mudou-se para Nova York na década de 1960, onde se destacou como uma figura central no teatro experimental global. Ele trouxe diversas montagens para o Brasil, influenciando a cena cultural do país.

A confirmação de sua morte foi feita pelo The Watermill Center, espaço que ele utilizava como um centro de criação artística, desenvolvendo vários projetos simultaneamente.

Wilson começou sua formação em arquitetura e frequentemente expressava sua aversão às escolas de artes cênicas, que considerava limitadas e voltadas apenas para a memorização de textos. Ele percebeu nas artes visuais uma forma de unir diferentes expressões artísticas, tornando-se conhecido por suas encenações que valorizavam o silêncio e a estética visual.

Seu repertório incluía obras de Shakespeare a autores contemporâneos como Heiner Müller, além de colaborações musicais com artistas como Lou Reed e David Byrne. Na década de 1970, ele fez parte de um grupo inovador de encenadores, incluindo Peter Brook, que se destacou por performances que exploravam o gesto, o vazio e as pausas no palco.

Um exemplo marcante de seu trabalho é a ópera “A Vida e Época de Dave Clarke”, que apresentava quadros vivos e durou mais de 12 horas. Essa produção, apresentada em São Paulo, abordava temas complexos, embora o título tenha sido alterado para evitar censura.

Em 1967, Wilson adotou Raymond Andrews, um jovem com autismo e dislexia. Essa experiência teve um impacto significativo em sua carreira, permitindo-lhe experimentar novas formas de interação entre som e o público.

No Brasil, ele trouxe diversas montagens conhecidas, como “A Última Gravação de Krapp”, “Ópera dos Três Vinténs” e “Lulu”, em colaboração com a famosa companhia Berliner Ensemble. Wilson sentia uma forte conexão com Samuel Beckett, cujas obras exploravam a economia da linguagem e o tempo em relação ao espaço cênico.

Após 40 anos de carreira, ele montou “Dias Felizes”, em 2008, começando uma nova fase de suas interpretações. Em 2013, dirigiu “A Dama do Mar” com um elenco brasileiro, seguido por “A Velha Senhora”, que teve a participação de Mikhail Baryshnikov e William Dafoe, abordando temas históricos e políticos.

Além disso, em 2016, ele produziu o musical “Garrincha” no Brasil, que explorava a vida do famoso jogador de futebol de maneira poética, utilizando uma abordagem não realista.

Wilson também abordou a obra de John Cage em “Conferência sobre o Nada”, onde aplicou movimentos antes de adicionar diálogos, destacando a importância do silêncio na arte.

Com o musical “A Vida e a Morte de Marina Abramovic”, Wilson explorou a trajetória da famosa artista performática, incorporando elementos da sua vida e carreira. Este projeto envolveu um elenco diversificado e foi uma homenagem à resistência e ao esforço físico presente nas performances.

Além de seu trabalho com teatro e ópera, Wilson ajudou a revitalizar a carreira da atriz Winona Ryder em um momento difícil. Ela participou de uma exposição de fotos sua em 2008, que também incluía imagens de outros artistas renomados.

Seu último trabalho, “Pessoa, Since I’ve Been Me”, estreou em Florença no ano passado. A peça traçou a vida do poeta Fernando Pessoa, encerrando com um verso em inglês que fala sobre a incerteza do futuro, refletindo a essência da obra do poeta português.

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