Maduro utiliza ameaças dos EUA para silenciar opositores na Venezuela

As forças armadas dos Estados Unidos estão intensificando suas atividades ao redor da Venezuela, atacando supostos traficantes de drogas e confiscando petroleiros. Em resposta, o governo venezuelano, liderado pelo presidente Nicolás Maduro, está mobilizando seu exército, buscando ajuda de aliados e apelando para a Organização das Nações Unidas (ONU). Especialistas afirmam que Maduro está aproveitando a situação para reprimir vozes dissidentes no país.
A ONG de direitos humanos Human Rights Watch informou que, em setembro, registrou 19 casos de opositores ao regime que foram presos e mantidos em condições de incomunicabilidade. A pesquisadora Martina Rapido Ragozzino destacou que o governo usa a pressão dos Estados Unidos como justificativa para mobilizar as forças armadas, identificar críticos como “traidores” e levar muitos à prisão.
Um caso notável é o do opositor Alfredo Díaz, ex-governador do Estado de Nueva Esparta, que faleceu dentro do Helicoide, sede do Serviço Bolivariano de Inteligência (Sebin), em Caracas. Ele havia sido preso durante uma tentativa de fuga da Venezuela e sua família denuncia que ele não recebeu cuidados médicos.
A Assembleia Nacional da Venezuela aprovou recentemente uma nova lei que prevê penas de até 20 anos de prisão para quem promover ou apoiar ações dos Estados Unidos contra o transporte de petróleo venezuelano. Essa medida foi proposta pelo deputado Giuseppe Alessandrello.
Volker Türk, alto comissário da ONU para os direitos humanos, destacou que a repressão à sociedade civil está aumentando e que jornalistas, defensores de direitos humanos e opositores correm riscos de ameaças e detenções arbitrárias por causa de suas atividades.
A repressão em curso não é uma surpresa, segundo o sociólogo David Smilde. Ele afirma que diante de uma ameaça militar, o governo usa isso como justificativa para endurecer na repressão, situação que se intensificou desde o ano passado. Maduro declarou ter ganho as eleições presidenciais de julho de 2024, apesar de que observadores independentes afirmam que ele foi derrotado pelo opositor Edmundo González. Após protestos contra a eleição, milhares de pessoas foram detidas e 905 presos políticos estão sob custódia, de acordo com o Foro Penal, uma ONG que monitora o sistema prisional.
Os Estados Unidos consideram Maduro ilegítimo desde 2018, após uma eleição que foi considerada fraudada. O ex-presidente Donald Trump acusou o governo de Maduro de envolvimento com o tráfico de drogas e, por isso, há uma recompensa de 50 milhões de dólares para informações que levem à captura ou condenação do líder venezuelano.
Desde agosto, os EUA têm enviado navios de guerra para a região do Caribe e, desde setembro, ataques foram realizados contra pelo menos 29 embarcações, resultando em 105 mortes. No mês de dezembro, a Guarda Costeira americana confiscou dois petroleiros.
Em resposta a essas ações, Maduro descreveu os ataques como pirataria e alertou sobre uma “escalada de agressão grave” por parte dos EUA, enviando um apelo formal à ONU. Em uma reunião de emergência no Conselho de Segurança da ONU, representantes da Venezuela e dos EUA trocaram acusações. O representante venezuelano, Samuel Moncada, afirmou que os EUA protagonizam uma extorsão histórica, enquanto o representante americano, Mike Waltz, chamou Maduro de fugitivo da Justiça.
Recentemente, uma mulher, Johany Méndez, foi libertada após visitar um parente preso. Sua angústia reflete a realidade de muitos familiares de prisioneiros, que rezam pela liberdade de seus entes queridos. O caso de Gabriel José Rodríguez, que foi preso aos 16 anos e condenado por terrorismo, ilustra a gravidade da situação. Ele passou também por sua adolescência dentro do cárcere.
A morte de Alfredo Díaz gerou repercussão internacional. O presidente do Comitê Norueguês do Nobel mencionou seu falecimento como mais um triste exemplo de presos políticos sob o regime de Maduro. A repressão não afeta apenas políticos; cidadãos comuns, como a médica Marggie Orozco, também são alvos de prisões, como ocorreu quando compartilhou uma mensagem sobre a crise no país.
O relato de visitas a prisioneiros revela o clima de medo que permeia as famílias de detidos. Visitas são frequentemente limitadas e alimentos são restritos. A ONG Human Rights Watch indicou que as entregas de comida foram reduzidas no Helicoide, dificultando a vida dos prisioneiros e suas famílias. Essas situações geram um clima de incerteza e angústia, ressaltando a gravidade da crise humanitária e dos direitos humanos na Venezuela.




